Um espaço para aprofundamento e troca de experiências. Assim o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil) e consultor do Grupo Bradesco Seguros para assuntos relacionados a longevidade, definiu o II Fórum Internacional da Longevidade, que teve início na manhã de hoje, 16 de outubro, nas dependências do Grupo Segurador, no Rio. O evento dá prosseguimento aos debates iniciados ontem no IX Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, realizado em São Paulo.
Marcio Coriolano, presidente da Bradesco Saúde e da Mediservice, e também da FenaSaúde, ressaltou na abertura a importância de o Rio sediar o encontro.
Promovido pelo ILC-Brasil, com apoio do Grupo Bradesco Seguros e do Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento (WDA Forum), o evento tem como tema este ano “Envelhecimento e Gênero” e reúne especialistas dos cinco continentes.
Na primeira palestra do dia, “Uma perspectiva acadêmica sobre gênero e envelhecimento”, a pesquisadora Sara Arber, da Universidade de Surrey (Reino Unido), destacou os três tipos de recursos mais importantes para a qualidade de vida dos idosos: materiais (renda e bens), de saúde e assistenciais. Seu foco principal foram os assistenciais, em relação aos quais destacou quatros aspectos que impactam diretamente a atenção aos idosos.
O primeiro é o demográfico, uma vez que a população mundial vem envelhecendo rapidamente, sobretudo nas chamadas economias emergentes. O segundo são as mudanças familiares, já que cresce o número de famílias nucleares (formadas só de casais ou viúvas) e com poucas crianças, ocasionando pouca disponibilidade de cuidadores no interior das próprias famílias. O terceiro fator é o maior emprego de mão de obra feminina, que gera maior pagamento de aposentadorias. O quarto são as migrações, que implicam a escassez de adultos para cuidar dos idosos nas regiões e países de origem. “Todos esses fatores afetam a disponibilidade de recursos para a atenção aos idosos, principalmente nas classes mais baixas”, afirmou Sara Arber.
Em seguida, o holandês Willem Adema, economista-sênior da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), falou sobre “Gênero e envelhecimento – perspectivas econômicas e oportunidades”. Afirmou que o Brasil apresenta um gasto adequado com pensões e aposentadorias como proporção do PIB, mas que os chamados cuidados de longa duração ainda são praticamente nulos. De acordo com o economista, as mulheres ainda recebem menos que os homens em termos de pensões no mundo. Porém, nos países da OCDE, graças ao seu crescente nível de instrução, elas têm grande chance de ganhar cada vez mais, o que as ajudaria a contribuir mais nos lares. Segundo Adema, cresce o número de países onde é possível para um casal escolher qual dos dois vai deixar de trabalhar para cuidar dos filhos, mas isso ainda não acontece quando o que está em jogo é cuidar dos parentes idosos.
O envelhecimento no mundo
Ter um projeto de vida, fazer pequenas e grandes escolhas (em que ser útil e ter um trabalho prazeroso é essencial), ser alguém melhor e fazer uma ‘faxina’ material e existencial. Esses são alguns dos pontos levantados pela pesquisadora e escritora Mirian Goldenberg para se viver o que ela define como “A bela velhice”.
Mirian abordou o tema “Homens e mulheres envelhecendo no Brasil”. Ela destacou que, além das questões que ajudam a envelhecer melhor, como saúde, a situação financeira e amigos, um dos segredos é “dar risadas e aprender a dizer não”.
O painel “Envelhecimento e Gênero – perspectivas regionais” deu um panorama geral do envelhecimento na América Latina, Europa, América do Norte e Oceania. A conversa foi mediada pelo diretor no Brasil para o Fundo de População das Nações Unidas, Harold Robinson (UNFPA).
Participaram Guita Debert, Universidade de Campinas (UNICAMP), Toni Antonucci, da Sociedade Americana de Gerontologia, Vitalija Gaucaite Wittich, da Comissão Econômica das Nações (Europa) e Gabrielle Kelly, do Instituto de Pesquisas Médicas e de Saúde do Sul da Austrália, com condução do presidente do ILC-Brasil, Alexandre Kalache.
Entre os pontos de trabalho comuns, identificados pelos palestrantes, e de fundamental importância em várias partes do mundo, mesmo com as diversidades sócioeconômicas e culturais, estão: a grande diferença entre os ganhos salariais de homens e mulheres ainda existente em vários países; a necessidade de se reforçar a educação como caminho para uma melhora da sociedade como um todo; a importância dos relacionamentos intergeracionais (e como as novas relações familiares afetam diretamente o modo de envelhecimento); e a criação de incentivos para novas políticas públicas, em especial, habitacionais, que garantam ao idoso um envelhecimento digno.
A programação do II Fórum Internacional da Longevidade continua nessa sexta-feira, quando serão discutidas questões como Direito do Idoso, Gênero e Trabalho e Desenvolvimento de Politicas Públicas, entre outros temas. O escritor e jornalista Zuenir Ventura é o convidado da sessão de encerramento, para falar sobre os aprendizados da vida.
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