Apesar de dados do Ministério da Saúde apontarem o acidente vascular cerebral (AVC) como a principal causa isolada de morte no país, tanto em homens quanto em mulheres, poucas campanhas de divulgação dos fatores de risco tem sido feitas no Brasil. Conhecido popularmente como derrame cerebral, é uma das principais causas de morte e sequelas graves em todo o mundo, levando a óbito cerca de 70 mil brasileiros todos os anos. Uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030 aponta ainda que os custos globais do AVC deverão ser mais de quatro vezes maiores que os da malária e mais de três vezes que os da tuberculose.
Sobre os fatores de risco, nos últimos anos foi publicado um estudo chamado Interstroke que reúne os principais fatores de risco da doença. A pesquisa foi feita com três mil pessoas que tiveram AVCs e a mesma quantidade de indivíduos sem histórico do problema em 22 países – entre eles o Brasil. De acordo com o estudo, o fator de risco mais importante foi a hipertensão arterial. Os outros principais fatores que contribuem para o risco de AVC seriam as anormalidades do colesterol, o sedentarismo, o tabagismo, uma dieta inadequada, o aumento do índice cintura-quadril, diabete melito, ingestão excessiva de álcool, problemas como estresse e depressão, além de condições cardíacas como a arritmia.
De acordo com o neurologista Fernando Figueira, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital São Francisco na Providência de Deus, esses estudo serviu para constatar um fato que a comunidade médica já sabia. “A pesquisa universaliza dados importantes e mostra, principalmente, os fatores mais importantes bem definidos. Desses fatores de risco, a gente vê que a maioria deles é passível de correção”, aponta.
O neurologista diz ainda que os gastos que a Organização Mundial da Saúde prevê que serão dispensados com AVCs vão muito além de valores envolvendo os custos de tratamento. Figueira explica que existe um custo para a sociedade quando um indivíduo produtivo fica incapacitado, além de gastos com reabilitação e exames complementares. “A maioria desses indivíduos não consegue retornar plenamente as atividades prévias após sofrer um AVC”, explica.
Dentre os fatores de risco, 52% seriam atribuídos à hipertensão arterial, 29% ao sedentarismo, 19% ao tabagismo e 19% à falta de uma dieta saudável. Quanto à questão da alimentação, o neurologista aponta que é um campo muito aberto, mas que recomenda que as pessoas diminuam o consumo excessivo de sal e evitem dietas ricas em gordura.
O AVC é caracterizado basicamente pela falta de irrigação sanguínea em alguma parte do cérebro. Sem esse sangue, os neurônios presentes na região afetada acabam não tendo como ter acesso à nutrientes e ao oxigênio, e como isso podem morrer. “O AVC é um fator de incapacidade. Quando você cruza com uma pessoa que teve um infarto do miocárdio na rua, vc não percebe que a pessoa passou por isso. Mas, se cruzar com uma que teve um AVC, certamente vai ver as sequelas. O AVC deixa sequelas na maioria das vezes e, de acordo com o tipo, pode incapacitar a pessoa de fazer suas atividades normalmente”, alerta.
Segundo o especialista, a maioria dos esforços para conscientização de como socorrer uma vítima de AVC parte da própria Academia Brasileira de Neurologia. No dia nacional do AVC, são realizadas atividades em várias cidades do Brasil, tentando lembrar a população da importância de estar atento aos primeiros indícios do quadro de AVC. Porém, as pessoas ainda não dispensam a atenção necessária aos sintomas iniciais, que pode começar com, por exemplo, uma dormência no braço. “Há a necessidade de orientar a população da urgência do tratamento precoce, e isso depende da sociedade como um todo”, diz Figueira.
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