Embora os resultados sejam muito promissores, pesquisadores pedem cautela em relação ao uso da planta em humanos, em função da necessidade de estudos sobre os possíveis efeitos tóxicos
Vem de uma fruta original da Amazônia a nova promessa de um fármaco potente para combater as cáries - um dos mais sérios problemas de saúde bucal no Brasil. Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, e da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de Campinas descobriram que uma substância presente no bacupari tem alto poder de destruição da bactéria responsável pelas cáries - aStreptococcus mutans. Seu efeito seria semelhante ao da clorexidina, o mais potente antibiótico usado pelos dentistas.
O bacupari é o fruto da árvore Rheedia brasiliensis. Relatos anteriores davam conta de sua ação como cicatrizante e também como agente capaz de matar bactérias causadoras de distúrbios intestinais. No estudo para avaliar sua eficácia contra as cáries, os cientistas usaram extratos de cascas e sementes. O primeiro passo foi confirmar o efeito contra a Streptococcus mutans. Depois, eles partiram para a verificação do que seria mais potente: as cascas ou as sementes. Descobriram que os extratos das cascas manifestavam o mesmo poder, em concentração menor.
A terceira etapa foi a identificação do composto ativo. A equipe descobriu que a responsável pelo efeito é a substância 7-epiclusianona. E a boa notícia é que ela está presente em uma quantidade abundante na fruta, o que facilita sua retirada para avaliação. Além disso, segundo os cientistas, o composto é solúvel, incolor e parece não ter gosto ruim. "Nos estudos, também não apresentou toxicidade", informa Pedro Rosalen, orientador do trabalho, realizado por Ramiro Murata e Luciana Salles Branco.
Os cientistas pretendem prosseguir com os testes, e não apenas sobre a ação antimicrobiana do alimento. A fruta também continuará sendo pesquisada para a verificação de seu potencial anti-inflamatório e antitumoral. Alguns estudos anteriores apontaram ações do gênero. Em relação ao câncer, por exemplo, extratos da planta foram capazes de matar, em laboratório, células de melanoma (o mais agressivo tumor de pele), e de tumores de ovário, de pulmão e de mama.
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