TURISMO Notícia da edição impressa de 26/08/2013verno r
Voltado para pessoas com mais de 60 anos, programa será relançado em setembro para fomentar o fluxo de turistas
Adriana Lampert
Fomentar o fluxo de turistas pelo País em períodos de baixa temporada, quando a ocupação da hotelaria sofre quedas significativas, foi a estratégia encontrada pelo Ministério do Turismo, que relança, no dia 4 de setembro, o Programa Viaja Mais Melhor Idade. O anúncio será feito durante o primeiro dia do congresso da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav), em São Paulo. Mais do que contribuir para a economia do setor, o projeto também deve beneficiar milhares de pessoas com idade acima de 60 anos, que passarão a ter vantagens e descontos especiais na compra de passagens, reservas de hotéis e utilização de serviços em todo o território brasileiro.
Também aposentados e pensionistas, de qualquer faixa etária, estão no foco do programa do MTur. “A ideia é estimular quem tem disponibilidade de viajar em períodos de baixa ocupação, minimizando o principal problema do turismo, que é a sazonalidade”, reforça o coordenador-geral de Segmentação do Ministério do Turismo, Wilken Souto. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, o Brasil tem 17,2 milhões de aposentados e 7,2 milhões de pensionistas. Nem todos (nesses dois segmentos) são idosos, mas, de acordo com o IBGE, em 2011, foram contabilizados 23,5 milhões de brasileiros com idade acima de 60 anos (12,1% da população). “A maioria (70%) tem independência financeira, além de tempo para viajar”, ressalta Souto. De acordo com o Banco Mundial, o público da terceira idade ainda representa 20% do poder de compra no Brasil, um índice 15% maior que em 1990.
Formada predominantemente por mulheres, a também chamada “melhor idade” está no rol dos públicos mais fáceis e agradáveis de se trabalhar, elogia o diretor da agência Galápagos Tours, Paulo Gusmão. Apesar de atender a todas as faixas etárias, a empresa gaúcha conta com uma série de pacotes direcionados especificamente para grupos fechados ou abertos de idosos. “Uma grande maioria de aposentados nos procura para realizar viagens não só pelo Estado e pelo País, mas também para o exterior”, garante Gusmão, afirmando que o segmento tem potencial e merece atenção.
O diretor da Galápagos confirma um dado que foi levado em conta pelo MTur na formatação do programa. “Esse pessoal busca preço em primeiro lugar, por isso prefere viajar em períodos de baixa temporada, quando os tarifários são mais atrativos.” No caso da agência gaúcha, as classes A e B representam 50% dos clientes da terceira idade, o restante são pessoas da classe C. Pensando nesse nicho em potencial, o Ministério do Turismo aperfeiçoou o programa, que funcionou de 2007 a 2010, ampliando os benefícios financeiros para os consumidores que quiserem participar. “Além de fomentar emprego e renda, também temos o objetivo de promover inclusão social, proporcionando oportunidade da população acima de 60 anos e dos segmentos de aposentados e pensionistas de viajarem mais e aproveitarem os serviços dos destinos visitados”, destaca o coordenador de segmentação do Ministério.
A parceria do Ministério do Turismo com o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) rendeu produtos especiais sem burocracia para os usuários do programa Viaja Mais Melhor Idade. Duas linhas de crédito estarão disponíveis, a partir do dia 4 de setembro, com prazos de pagamento maiores e taxas de juros inferiores às praticadas pelo mercado para os demais clientes. No Banco do Brasil, a linha de crediário será ofertada para correntistas com renda mínima de R$ 500,00. O valor disponível para financiamento da viagem é de até R$ 10 mil, que podem ser parcelados em até 48 vezes, com taxas a partir de 1,88% ao mês. O cartão (bandeiras Visa, Elo e Visa Electron) é utilizado diretamente em agências de turismo, hotéis, locadoras de veículos, restaurantes e demais empreendimentos do setor.
Na CEF, o cartão de crédito Turismo Platino (Visa e Mastercard) foi adaptado para o público do programa do Ministério. Enquanto os clientes em geral precisam ter renda mínima de R$ 6 mil para contratá-lo, os usuários com mais de 60 anos, aposentados e pensionistas com renda de R$ 1,5 mil podem acessá-lo. O parcelamento do crédito também pode ser feito em até 48 vezes, com taxa especial de 0,82% ao mês. Nesse caso, o limite do financiamento impacta no do cartão de crédito de cada cliente.
Como o programa é focado em descontos e vantagens, também os meios de hospedagem devem oferecer benefícios, como preços menores, ou cortesias como um dia de spa para o cliente, upgrade de categoria de quarto, um passeio turístico, almoço e jantar, além do café da manhã, entre outros. Conforme o MTur, a ideia é que, no futuro, o Viaja Mais Melhor Idade também disponibilize vantagens a partir de parceria com clubes de férias, cruzeiros, parques temáticos e museus.
O casal Jorge Francisco Faria e Ramona Lysakowski, ambos com 51 anos de idade, nunca tinha viajado junto antes de dezembro de 2012, quando iniciaram o que seria uma “nova fase” de suas vidas. Avós de dois meninos, um de oito e outro de dois anos, a dupla passou a desbravar o interior do Rio Grande do Sul após a compra do carro, feita às vésperas da virada de ano. “Antes disso, passamos por muitas dificuldades, mas agora que já temos os filhos casados e encaminhados, estamos aproveitando para conhecer o Estado”, resume Ramona.
Avessos a festas e badalação, os dois “vovôs da estrada”, como se intitulam em uma página do Facebook em que divulgam os destinos por onde passam, chegam a conhecer de três a quatro municípios por vez. O foco é a tranquilidade, a natureza, novas culturas e pessoas. “Costumamos decidir para onde vamos poucas horas antes de entrar no carro”, conta Ramona. Munido de chimarrão, café e sanduíches, o casal gasta pouco a cada roteiro que faz. Na lista de municípios visitados, estão cidades conhecidas como São Francisco de Paula, Gramado, Canela, Teutônia, Ivoti, Estrela e Lajeado, mas também inúmeros destinos de que pouca gente ouviu falar. “Caará, Mato Leitão, Westfália”, cita a doceira aposentada. Em oito meses, a dupla conheceu 47 cidadezinhas e voltou a visitar muitas delas por mais de uma vez.
“Até hoje, fomos para destinos próximos, mas a ideia é conhecer lugares mais longínquos”, projeta Ramona. “Nosso Estado é lindíssimo, deveria ser melhor explorado e divulgado. Nós estamos tentando, mas é tudo muito lento”, finaliza Ramona. Outro projeto do casal é levar livros usados para distribuir em escolas das regiões mais pobres por onde passam.