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II Fórum ILC-BR: "Temos que nos programar para viver até 90 anos"

Temos que nos programar para viver até 90 anos
Por GUSTAVO FERNANDES



Alexandre Kalache, Presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil)



A aposentadoria é um artigo indispensável no planejamento profissional. Analisar e projetar a qualidade de vida na terceira idade e as perspectivas da longevidade devem ser prioridades, afirma o geriata e gerontólo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil). Kalache salienta que com o aumento da expectativa de vida em foco, o trabalhador deve ter um projeto para sua previdência, seja ela pública ou privada. Na entrevista abaixo, concedida durante o II Fórum Internacional da Longevidade, no dia 17 de outubro, no auditório da Bradesco Seguros, Kalache mostrou um panorama da questão financeira na terceira idade e comentou sobre a desigualdade entre gêneros no mercado, além de criticar a aposentadoria compulsória. Coordenador por Kalache, o evento foi promovido pelo Centro Internacional de Longevidade Brasil (International Longevity Centre - ILC-BR), com apoio do Grupo Bradesco Seguros e do Fórum Mundial de Demografia e Envelhecimento (WDA Forum). 

SITE ABRH-RJ: Quais é o planejamento ideal para se pensar na aposentadoria?
Alexandre Kalache: Durante a velhice as pessoas precisam de quatro tipos de capital: saúde, conhecimento, social e financeiro. O capital financeiro é inevitável, pois sem dinheiro sempre haverá dificuldade para ter acesso a serviços, ter uma previdência, adquirir um seguro pessoal ou de saúde. Como se pensar nisso quando a renda é curta? Temos que nos programar para viver até 90 anos. Hoje quando chegamos aos 45, temos que ter em mente que é só a metade da vida e ainda há muito para se viver. 

SITE ABRH-RJ: Atualmente dois terços dos idosos com oitenta anos são mulheres. Deve haver políticas e programas sociais voltadas para as mulheres na terceira idade? 
Alexandre Kalache: Sem dúvida, não se pode abandonar a mercê do destino. E, muitas vezes, essas mulheres que por falta de opção precisam morar com os filhos que já constituíram família ficam expostas a maus tratos e abusos domésticos. Esse termo “aposentadoria” mesmo, de aposento, já indica uma segregação, dos idosos não estarem compartilhando o mesmo local que outras pessoas. Mas de certa forma corrigimos isso de certo ponto com pensões contributivas, que não deixarão ninguém rico e nem irá corrigir a pobreza, mas ao menos garantem uma renda para garantir comida, remédio e um lugar para morar. É uma política que precisa ser mantida e ampliada, para ter uma renda mínima. 

SITE ABRH-RJ: Salário igualitário entre gêneros seria um fator que poderia auxiliar as mulheres com a previdência? 
Alexandre Kalache: Há uma defasagem do mesmo serviço realizado por homens e mulheres. Os homens sempre ganham mais e isso se reflete depois no recebimento da pensão ou da aposentadoria. Não há lógica de existir esse distanciamento dos salários para o exercício da mesma função. É uma prática discriminatória. E depois de aposentadas, as mulheres tem 40% de renda inferior, algo incabível. Por ter uma expectativa de vida maior as mulheres precisam de mais dinheiro para se manterem saudáveis financeiramente por mais tempo. Uma mulher que chega hoje aos 60 anos no Brasil tem uma expectativa de vida de mais 25 anos. 

SITE ABRH-RJ: No cenário da previdência social também existe essa discriminação?
Alexandre Kalache: As mulheres que trabalharam em casa ou que saíram do mercado para cuidar da família não realizaram contribuição para o INSS ficaram sem uma previdência social. Além das que trabalharam informalmente, que também ficaram desprotegidas. Após um divórcio de um casamento de longos e longos anos a mulher nessa situação fica desamparada, porque mesmo que ela tenha uma graduação ela terá que recomeçar ou até mesmo começar de fato sua carreira naquele instante. E sem experiência profissional para competir com candidatos com conhecimentos recentes ela se encontra em uma disputa brutal. E quem está empregado nessa faixa etária e perde sua vaga tem uma dificuldade enorme de voltar a competir no mercado de trabalho. É necessário que haja uma mudança nesse cenário.

SITE ABRH-RJ: Então empregados com idade avançada têm mais dificuldade em se manterem empregados? 
Alexandre Kalache: Sim, e é a empresa que perde com a aposentadoria compulsória, perde a experiência e o treinamento daquele empregado. Desperdiçam o acúmulo de experiência na hora que mais poderia produzir. Isso se torna sustentável quando atualmente vemos a revolução da longevidade, com cada vez mais países com expectativa de vida passando de 80 anos. Quem poderia dizer, quando eu nasci, onde a expectativa de vida era de 43 anos, que ganharíamos 33 anos de expectativa de vida? Não só de velhice, mas de vida. Isso revoluciona tudo, a partir daí se precisa adaptar, renovar e reformar a política para a longevidade. 

SITE ABRH-RJ: No Brasil há uma projeção de que os idosos irão representar 30% da população em 2050. O senhor acredita que haverá espaço no mercado de trabalho para esse público? 
Alexandre Kalache: Só teremos mais vagas se mudarmos a legislação, mudarmos a cabeça das pessoas. Precisamos abolir a aposentadoria compulsória, que é um absurdo. É uma herança do passado, de políticas equivocadas. Qual é a reforma previdenciária que irá mudar esse sistema? Esse problema é insustentável e está avolumando, a cada ano o déficit é maior e ninguém está apresentando soluções. 

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