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Sono ajuda o cérebro a eliminar toxina do Mal de Alzheimer

18/10/2013 - 03h03
RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO

Um experimento com roedores mostrou que o sono é essencial para limpar toxinas acumuladas no cérebro durante o dia. Quando dormimos, células nervosas diminuem, abrindo espaço para fluidos fazerem, literalmente, uma lavagem cerebral.

A descoberta foi feita no laboratório de cientistas da Universidade de Rochester, nos EUA, que usaram uma técnica sofisticada de microscopia a laser para observar tecidos de animais vivos.

As toxinas que se acumulam regularmente no cérebro resultam do funcionamento normal do órgão e precisam ser eliminadas alguma hora.

Ao comparar camundongos acordados com adormecidos, os pesquisadores mostraram que o fluido cerebrospinal --líquido que permeia o cérebro-- passa com mais liberdade pelo cérebro durante o período de sono. Isso pode ser uma das principais razões pelas quais dormir é essencial para muitos animais.

"Não temos certeza sobre se o acúmulo de detritos no cérebro é aquilo que induz o sono ou não, mas é uma possibilidade", disse à Folha Lulu Xie, autora principal do estudo sobre o experimento, que saiu na revista "Science".

No trabalho, a cientista mostrou que uma das moléculas varridas pelo fluido cerebral na hora da limpeza é a beta-amiloide --proteína ligada ao mal de Alzheimer quando se acumula demais.

"A doença de Alzheimer está associada à perturbação do sono", diz Xie. "A falta de espaço intersticial [lacunas entre células] pode causar o acúmulo de lixo metabólico e danificar o cérebro."

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

ANIMAIS SONECAS

Suzana Herculano-Houzel, professora da UFRJ e colunista da Folha, escreveu para a "Science" um artigo comentando o estudo de Xie. Para ela, a descoberta complementa o que já se conhece sobre o papel do sono, como a consolidação das sinapses (conexões entre diferentes neurônios).

"Ao dormir, você ganha plasticidade [flexibilidade para criar sinapses], consolida o aprendizado e lida melhor com estresse, mas nada disso é necessidade absoluta", diz. Já a limpeza de toxinas pode estar entre as razões pelas quais a privação prolongada de sono pode matar.

Segundo a cientista, o experimento pode explicar por que animais pequenos, como o morcego, dormem 20 horas diárias, enquanto elefantes só precisam de quatro horas. "Cérebros maiores devem ter um volume de espaço intersticial maior para armazenar moléculas indutoras do sono e, assim, suportariam períodos maiores acordados".

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