24/09/2009 - 16h00
Privação do sono pode desencadear mal de Alzheimer, diz estudo
da New Scientist
Falta de sono pode ajudar no desenvolvimento de placas tóxicas no cérebro, acelerando a progressão do mal de Alzheimer.
David Holtzman, da Washington University School of Medicine (EUA), observou sobre como o sono afeta os níveis da proteína beta-amiloide em camundongos e humanos. Estas proteínas causam placas que se acumulam no cérebro --algo que alguns acreditam ser a causa do mal de Alzheimer, por meio da morte de células.
Falta de sono pode ajudar no desenvolvimento de placas tóxicas no cérebro, acelerando a progressão do mal de Alzheimer, diz estudo
A equipe de Holtzman apontou que níveis de beta-amiloide foram mais altos em cérebros de camundongos quando estes estavam acordados do que quando estavam dormindo.
A falta de sono também teve um efeito sobre os níveis da placa: quando camundongos eram privados de sono --ou seja, quando eram obrigados a ficarem acordados 20 horas por dia--, houve o desenvolvimento de mais placas em seus cérebros.
Terapia do sono
Holtzman também tentou induzir os camundongos a dormir com uma droga que está testando para insônia, cujo nome é Almorexant. Segundo ele, a indução também reduziu a quantidade de formação das placas de proteína.
O pesquisador sugere que dormir por mais tempo pode limitar a formação de placas e, talvez, bloqueá-la por completo.
O grupo também analisou os níveis de beta-amiloide no fluido cérebro-espinhal de dez homens saudáveis, tanto durante a noite quanto durante o dia. Os níveis ficavam mais baixos durante a noite, sugerindo que o sono também podem manter os níveis da placa baixos em humanos.
Holtzman afirma que, quando estamos acordados, nossos cérebros são mais ativos, e que isto pode nos levar a produzir maior quantidade de proteína beta-amiloide.
Pílulas não são a resposta
O neurocientista Damian Crowter, da Universidade de Cambridge, disse que pessoas com mal de Alzheimer são conhecidas por sofrer alterações no sono, mas que não se sabe se isso é uma causa ou sintoma da doença.
Ele afirma que os novos resultados são interessantes, mas alerta para o encorajamento de pessoas com Alzheimer a tomar pílulas para dormir, na esperança de que o sono atenue a doença. Em vez disso, ele sugere que exercícios para induzir ao sono sejam uma boa ideia, caso estudos posteriores confirmem a ligação entre sono e a progressão do Alzheimer.
Recentemente, por exemplo, algumas drogas que removeriam placas falharam na tentativa de aliviar os sintomas do mal de Alzheimer. E, no começo deste mês, dois estudos sugeriram que rupturas do sistema imunológico, a maneira como células metabolizam gordura e o desgaste do sistema circulatório podem ser tão responsáveis pela doença quanto as placas de beta-amiloide.
14/05/2009 - 09h42
Escala de pontos ajuda a prever risco de ter Alzheimer
JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo
Um estudo publicado no "Neurology", periódico da Academia Americana de Neurologia, sugere uma escala para detectar o risco de um idoso desenvolver doença de Alzheimer nos próximos seis anos.
Por meio de 12 informações do paciente, como índice de massa corporal, consumo de álcool, tempo gasto para abotoar a camisa, problemas cardiovasculares e avaliações cognitivas específicas, é possível somar 15 pontos.
Aqueles que marcam mais de oito pontos têm risco maior que 50% de manifestar a doença em seis anos, de acordo com o estudo.
Para chegarem ao índice, os pesquisadores da Universidade da Califórnia avaliaram durante seis anos dados de 3.375 pessoas sem sinal de demência e com idade média de 76 anos. Ao final do período, 480 delas (14%) desenvolveram sintomas de Alzheimer. Os fatores que melhor predisseram quem apresentaria o problema foram considerados para a escala.
"Vemos a escala como o primeiro passo de um longo processo para criar e validar um índice de risco de demência que possa ser usado no consultório ou em pesquisas para identificar idosos com alto risco", disse à Folha Deborah Barnes, responsável pelo trabalho.
Os fatores de risco para Alzheimer apontados pelo índice são conhecidos, mas a reunião de todos eles em uma escala que prevê as chances de desenvolver a doença é nova.
"Essa escala pode auxiliar na tomada de decisões. Por exemplo, um indivíduo com alto risco deve ser monitorado em intervalos menores, ser medicado para fatores vasculares, caso os tenha, ser incentivado a realizar exercícios físicos e mentais. Mas não serve para avaliar pacientes individualmente. Não é como realizar um exame de sangue que dá positivo para hepatite", afirma a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da USP.
A eficácia do método ainda precisa ser comprovada em outros estudos e outras populações. Para o Brasil, por exemplo, a escala de escolaridade, usada para determinar alguns quesitos, deveria ser diferente, assim como o nível socioeconômico e o ponto de corte de idade: 60 anos, contra 65 anos em países desenvolvidos.
"Existem fatores que são limitados no Brasil, como o exame de genotipagem do ApoE [que indica predisposição à doença]", acrescenta Grinberg.
Estilo de vida
Estima-se que a doença de Alzheimer comece a se desenvolver até 15 anos antes de os primeiros sintomas surgirem.
Para Paulo Caramelli, neurologista da Universidade Federal de Minas Gerais, médicos poderiam propor, com a ajuda da escala de risco, programas de prevenção a pacientes que têm mais chances de desenvolver demência.
Estudos anteriores mostram que atividades intelectuais como tocar um instrumento e jogos de estratégia protegem o cérebro. O mesmo ocorre com atividades físicas e a dieta do mediterrâneo. "De um lado, há o índice de risco alto, mas você pode tentar jogar com mudanças de hábitos de vida. Para promoção de saúde, esse estudo é muito interessante", diz.
Não há, porém, drogas que previnam a doença. Um diagnóstico precoce é essencial.
25/03/2009 - 09h31
Exame pode detectar Alzheimer antes dos primeiros sintomas
JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo
Um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, publicado em edição on-line do "Annals of Neurology", demonstra resultados promissores de um teste que detecta a presença de biomarcadores no liquor (líquido da medula espinhal) para detectar precocemente a doença de Alzheimer, antes de os primeiros sintomas se manifestarem.
Os pesquisadores avaliaram a presença das proteínas beta-amiloide 42 e tau (indicadores da doença) em amostras do liquor de 410 pacientes de um programa de pesquisa sobre Alzheimer, de 52 pessoas com características cognitivas normais e de outras 56 pessoas com diagnóstico de Alzheimer confirmado na autópsia.
Segundo a pesquisa, a precisão do exame chegou a 87% em geral e a até 96,4% na análise da presença de beta-amiloide naqueles que tiveram a confirmação da doença por autópsia. Além disso, o teste teve eficácia de 81% para avaliar as chances de um déficit cognitivo leve evoluir para doença de Alzheimer, valores considerados satisfatórios pelos pesquisadores.
Trabalhos de avaliação desse tipo de teste são realizados há alguns anos, mas ainda mostram deficiências em alguns casos específicos.
"Em resumo, a proposta é atraente, mas não se pode causar alarde, porque são marcadores em testes", afirma a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -o maior do mundo.
A relevância do estudo da Pensilvânia está no número de pacientes e na variedade da amostra -como foram avaliadas pessoas de 56 partes dos EUA e do Canadá, o trabalho contempla várias etnias. Essas características são importantes para ajudar a validar um método para diagnóstico.
Outros estudos
No Brasil, grupos de pesquisa também estudam a presença de marcadores para o diagnóstico precoce da doença, como o do neurologista Paulo Caramelli, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Ele acredita que os estudos avançam, mas que ainda exigem mais comprovação. "A grande dúvida é sobre qual será o documento-fonte [desse tipo de teste]: podemos usar o liquor, feito por um exame invasivo, o sangue ou uma imagem que detecta a proteína beta-amiloide no cérebro da pessoa viva", explica. Também estão sendo desenvolvidos testes de memória específicos e outros estudos que trabalham com imagens cerebrais.
Hoje, a forma mais precisa de atestar a doença é por autópsia. No paciente vivo, é possível detectá-la com alguns testes clínicos e de imagem. "Entretanto, só 70% desses diagnósticos são confirmados na autópsia. Ademais, esse diagnóstico em vida só é feito quando a doença está mais avançada. No início, é difícil saber", afirma Grinberg.
O resultado chega tarde, quando o indivíduo já manifesta prejuízo no desempenho das funções do dia a dia, como vestir-se, banhar-se, administrar o dinheiro e tomar medicação.
Um biomarcador que possa ser dosado no sangue ou no liquor ou em um exame de imagem favorecerá um diagnóstico precoce da doença, preservando as capacidades cognitivas do paciente.
"Além disso, seria imprescindível para a realização de estudos de melhor qualidade para testar a eficácia de drogas e estratégias terapêuticas para a doença", completa o geriatra José Marcelo Farfel, responsável pelo setor clínico do Banco de Cérebros da USP.