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Brasileiros criam teste preciso e barato para detectar vírus HTLV (Aids)

 

VENCESLAU BORLINA FILHO

DE RIBEIRÃO PRETO

Pesquisadores do Hemocentro da USP de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) desenvolveram um kit de diagnóstico molecular mais eficiente e barato do que o teste atual para o vírus HTLV, que pode causar câncer no sangue e paralisia dos membros inferiores.

O kit, formado por reagentes e instrumentos de análises clínicas, confirma a existência do vírus e o seu tipo (se 1 ou 2). Segundo os pesquisadores, o exame pode custar até 10% do preço do mais usado atualmente, sorológico.

De acordo com o pesquisador Maurício Rocha, o exame atual tem resultados indeterminados em até 40% dos casos. O novo kit, afirma ele, é 100% eficaz. "O kit detecta o genoma do vírus no paciente, e não os anticorpos criados por ele."

A origem da pesquisa está na necessidade de diagnosticar o vírus para evitar novas contaminações. Estudos estimam que, no Brasil, 2,5 milhões de pessoas são portadoras do vírus, mas em apenas 5% delas as doenças se manifestam.

A principal forma de transmissão do vírus é de mãe para filho, pela amamentação. Porém, o exame não integra o protocolo do pré-natal das gestantes. A medida, segundo os especialistas, poderia impedir a transmissão vertical.

As outras formas de contaminação são relações sexuais sem preservativo, compartilhamento de agulhas e seringas e transfusões de sangue. Desde 1993, nos bancos de sangue, os exames para detecção do vírus são feitos.

Editoria de Arte/Folhapress

O HTLV não tem cura e tratamento definitivo. A aposentada Sandra de Castro do Valle, 59, de Niterói (RJ), descobriu em 2005 que era portadora do vírus. Ela afirmou que após investigações, confirmou que a contaminação foi pela mãe.

"Por causa do diagnóstico tardio, inclusive, transmiti o vírus para o meu ex-marido. Graças a Deus meus filhos não desenvolveram o HTLV", disse ela, que faz tratamento paliativo com corticoides na medula para evitar inflamação e dores nas costas.

Ela montou uma ONG para difundir o conhecimento do vírus e auxiliar portadores no acesso a tratamentos. "Nós não temos atendimento que deveríamos. O acolhimento é feito apenas nos institutos de pesquisa."

Infraestrutura é barreira para adoção de teste de HTLV, diz especialista do Emílio Ribas

A obrigatoriedade do teste do vírus HTLV na rede pública de saúde esbarra na falta de infraestrutura, segundo o chefe do Departamento de Neuropsiquiatria do Instituto Emílio Ribas em São Paulo, Augusto Penalva.

"O desenvolvimento de um novo kit de diagnóstico mais em conta e eficiente é um avanço, mas a rede ainda não está preparada para receber os portadores do vírus e todos os cuidados necessários", afirmou.

No caso das gestantes de São Paulo diagnosticadas com o vírus, somente no final de 2011 é que elas foram incluídas no programa estadual de aleitamento, que garante leite aos recém-nascidos para evitar a contaminação.

O instituto tem em andamento uma pesquisa com 2.000 gestantes, que serão acompanhadas no parto e terão os filhos monitorados para verificar a transmissão ou não do vírus.
Segundo Penalva, no futuro, a pesquisa poderá dar subsídios para a implantação de uma rede de atendimentos aos portadores do HTLV. "O vírus ainda é um grande problema de saúde pública por ser negligenciado."

O Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição sobre políticas em estudo para implantar o exame de HTLV no pré-natal.

 

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