IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO
Comer menos, dizem os cientistas, faz você viver mais. E melhor?
Não, afirma Luciana Aun, médica cirurgiã e autora de "Segredos do Antienvelhecimento" (ed. Livre Expressão, 165 págs., R$ 34).
Para manter a saúde e retardar os efeitos do passar dos anos no corpo é preciso até consumir algumas calorias extras -desde que vindas dos alimentos certos e com novos arranjos nas proporções de cada grupo de nutrientes conforme a fase da vida, segundo a médica.
Sua teoria é a de que, a partir da pré-menopausa ou da andropausa, época em que começa o declínio hormonal na mulher e no homem, respectivamente, é preciso comer mais gorduras "boas".
Ela propõe uma mudança na tradicional pirâmide alimentar, que indica as proporções de consumo diário para cada grupo de nutrientes.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
No esquema tradicional, as gorduras ficam no topo da pirâmide: significa que devem ser ingeridas nas menores quantidades diárias. Aun defende que, ao envelhecer, a pessoa mude essa proporção.
"Gorduras boas, especialmente as ricas em ômega 3, facilitam a fabricação e o transporte de hormônios, sem causar inflamação", diz.
OUTRO LADO
A ação anti-inflamatória do ômega 3 já foi comprovada. E as gorduras são mesmo importantes para o trabalho hormonal. Mas os argumentos não são suficientes para aumentar o consumo do nutriente, na opinião do cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Instituto Dante Pazzanese Cardiologia.
"As gorduras não podem passar de 35% do total de alimentos consumidos ao dia. Demais, até mesmo gordura boa faz mal."
O problema, segundo o cardiologista, é que o nutriente altamente calórico (um grama tem nove calorias) aumenta também gordurinhas que ninguém considera do bem, como aquelas ao redor da cintura.
As consequências não são só estéticas: os pneuzinhos também aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
ANTIOXIDANTES
Outro ponto da dieta antienvelhecimento proposta por Aun é aumentar a reserva de antioxidantes, substâncias que combatem os radicais livres, moléculas relacionadas aos processos degenerativos do organismo.
Para melhorar o aproveitamento dos antioxidantes fornecidos pelos alimentos, a médica sugere que eles sejam consumidos em forma líquida pelas pessoas mais velhas.
A ideia é facilitar o trabalho de digestão. "Todo processo metabólico, como o digestivo, gera um 'lixo' celular, fonte de radicais livres. Se economizamos nesse processo, sobra energia e nutrientes para músculos, pele e órgãos funcionarem melhor."
Mas também não dá para levar muito ao pé da letra essa dieta líquida.
Em alguns casos pode ser bom, mas não é fundamental para garantir a absorção das substâncias que a pessoa precisa, segundo a bioquímica e nutricionista Lucyana Kalluf, do Instituto de Prevenção Personalizada, de São Paulo.
"O melhor é fazer um 'bem-bolado' de líquidos e sólidos, de alimentos que ajudam na regulagem hormonal e de antioxidantes", diz Kalluf.
E lembrar que, para envelhecer bem, o corpo não quer só comida. "Não adianta comer tudo certinho se você vive estressado ou deprimido", diz Aun, que também colocou a atividade física e a meditação em sua pirâmide.